Denúncias de privilégios ao vereador Jairinho (sem partido) e à professora Monique Medeiros enquanto estiveram no presídio José Frederico Marques, em Benfica, zona norte do Rio, motivaram a saída do diretor e subdiretor da unidade.
Agentes penitenciários relataram ao UOL, sob a condição de não serem identificados, denúncias de regalias ao casal enquanto estiveram em Benfica —nas duas horas em que permaneceram no presídio, eles puderam se despedir com beijo e abraço, e Jairinho permaneceu todo o tempo na sala da direção, com direito a lanche.
Após serem presos na quinta-feira (8) por suspeita de atrapalhar as investigações e ameaçar testemunhas, mãe e padrasto do menino Henry Borel foram levados ao presídio de Benfica, porta de entrada do sistema penitenciário na capital.
A saída de Ricardo Larrubia da Gama, então diretor da unidade, foi publicada em boletim interno da Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) de segunda-feira (12) —o pedido de afastamento partiu do próprio Gama após as denúncias das regalias, segundo a pasta. O subdiretor Felipe Veigo Pimentel também deixou o presídio.
Eles foram transferidos para o Instituto Penal Cândido Mendes, no centro do Rio, onde estão trabalhando desde ontem. O UOL não conseguiu localizá-los para que comentassem as denúncias e a saída da unidade. A reportagem também encaminhou as denúncias às defesas de Jairinho e Monique e aguarda posicionamento.
A Seap disse ter encaminhado imagens de câmeras de segurança da unidade ao MP-RJ (Ministério Público do Rio) —o material não foi divulgado.
Em nota, a secretaria confirmou que o afastamento foi motivado por denúncias à imprensa e disse não saber se uma sindicância será instalada para investigar o caso. “A Seap informa que a direção do presídio Frederico Marques (…) foi substituída, a pedido, após discordar das denúncias de supostos privilégios.”
Café na sala do diretor, denunciam agentes
Policiais penais ouvidos pela reportagem dizem ter visto Jairinho e Monique sendo recebidos na unidade pelo próprio diretor, com o político permanecendo na sua sala —o que é irregular. Lá, ficou a portas fechadas com o diretor.
De acordo com relatos ao UOL, Jairinho dava gargalhadas e conversava com o diretor no local. Os agentes contam ainda que o próprio diretor ordenou a compra de pão, refrigerante e café.
Os policiais penais afirmam que a ação foi registrada pelas câmeras da unidade —as imagens foram encaminhadas ao MP-RJ, de acordo com a Seap.
Jairinho permaneceu o tempo inteiro na sala do diretor e só deixou o local para ir à audiência de custódia —sem algemas e sem o uniforme da Seap—, segundo os agentes. Os servidores contam ainda que Jairinho não passou pela revista de praxe.
Já Monique foi levada para uma sala de segurança, localizada no mesmo corredor da sala da direção. Um episódio chamou a atenção dos guardas: durante a revista corporal feita em Monique, uma agente perguntou informalmente o motivo de ela não ter denunciado as agressões de Jairinho ao menino Henry. Monique permaneceu em silêncio.
Segundo os agentes, Jairinho agia com naturalidade —falava alto e ria enquanto conversava com o diretor—, enquanto Monique aparentava estar sob o efeito de medicamentos.
Despedida com beijo e abraço
Antes de deixarem a unidade, Monique foi chamada até a sala do diretor, onde se despediu de Jairinho com um abraço e um beijo —o que é proibido. De acordo com os agentes, o diretor permaneceu do lado externo, supostamente para dar privacidade ao casal.
O episódio aconteceu, segundo contam os servidores, por volta das 15h30 de 8 de abril, quando viram Monique no corredor que dá acesso à sala de diretor. O contato entre o casal durou menos de um minuto, segundo o relato dos policiais penais que presenciaram a cena.
Conforme a denúncia, Jairinho e Monique sequer foram levados para a carceragem da unidade, como é de praxe nesses casos.
Por volta das 16h, Jairinho foi transferido para o presídio Pedrolino Werling de Oliveira, conhecido como Bangu 8, no Complexo de Gericinó. Já Monique foi levada para o Instituto Penal Ismael Sireiro, em Niterói. O casal cumpre período de isolamento de 14 dias antes de ingressarem no sistema prisional, protocolo adotado pela Seap desde o início da pandemia.