Julga-se que deve diminuir de intensidade ou até desaparecer. Enquanto os homens gozam de comparações com o vinho, que vai ficando melhor com o passar do tempo, as mulheres são associadas a um poço que vai secando.
Esta realidade é confirmada por três psicólogas, Cláudia Almeida, M. Joana Almeida e Telma Pinto Loureiro, psicóloga clínica e especialista na área do amor e dos relacionamentos no gabinete Sentimental Mood.
«O direito à igualdade sexual ainda não está plenamente adquirido», assegura. Para sabermos o que é que deve e pode ser feito para alterar a mentalidade vigente, reunimos os conselhos de especialistas e os testemunhos de leitoras da Saber Viver.
No sentido de evitar situações embaraçosas, como a da jovem cantora norte-americana, «a informação sobre sexualidade deve ser abordada desde cedo», avança Cláudia Almeida, psicóloga clínica especializada em sexologia clínica da Oficina de Psicologia.
E não apenas os pontos positivos ou superficiais. Que o sexo é uma excelente fonte de prazer, que estimula a intimidade entre duas pessoas, que é um ótimo sonífero e um bom ibertador de stresse, isso a literatura, o cinema, a televisão e a música exacerbam ao ponto de deturpar a realidade.
Mas apenas no que toca às faixas etárias dos 20 e 30 anos, porque aos 40 as representações da sexualidade feminina são escassas.
Entre as poucas personagens femininas na meia-idade que não encaixam no imaginário popular, merece a pena relembrar a personagem Samantha Jones que a atriz Kim Cattrall encarnou na série televisiva «Sexo e a Cidade».
A vida glamorosa e rica que levava no programa não é representativa da grande maioria das mulheres portuguesas na casa dos 40 anos, exceto em dois aspectos.
Samantha Jones é desinibida e sabe o que quer. Na cama e fora dela! Este último ponto foi bastante controverso quando a série estreou no final dos anos da década de 1990 e até a atriz teve dúvidas sobre se conseguiria representar uma mulher na meia-idade sexualizada.
No entanto, numa entrevista ao jornal britânico Metro, admitiu que este papel lhe deu mais confiança e ajudou-a a arriscar mais.
O auge da vida sexual
Aos 40 anos, a mulher já experimentou e praticou o suficiente para não estar preocupada com o seu desempenho sexual, nem com o do seu parceiro.
«Percebemos que quando estamos na cama com alguém é muito mais do que só dois corpos», declara Cristina Santos, 44 anos. Nesta fase da vida a mulher sabe como obter prazer, e atingir o orgasmo deixa de ser o objectivo principal.
«Tudo parece mais vivo. O toque, as sensações, a entrega, o prazer, a forma como estamos», explica Cristina Santos.
Por outro lado, «os orgasmos das mulheres têm um carácter aprendido, precisam de experiência e treino», adianta Maria Joana Almeida, psicóloga clínica e sexóloga na Clínica Egomed.
As mulheres sentem-se mais à vontade para explorar, e os jogos de sedução, as fantasias e outros estímulos adquirem um novo interesse.
Afinal, brincar também faz bem aos adultos. A atração física já não está acorrentada a conceitos de beleza inatingíveis, e a mulher descobre que é desejada por ser como é.
«Sentimo-nos sexys mesmo se estivermos de pijama de flanela», ilustra Leonor Correia, 45 anos. E, de acordo com a psicóloga Cláudia Almeida, estes testemunhos são apoiados por estudos como o que foi publicado no British Journal of Urology, que mostrou que as mulheres na meia-idade têm uma vida sexual melhor do que aos 20 e 30 anos.
Segundo esta investigação, que reuniu respostas de 587 norte-americanas, as mulheres com mais de 40 anos são mais ativas sexualmente e atingem o orgasmo com maior frequência.
A ajuda do desporto
A forma como se experiencia o sexo é melhor nesta faixa etária porque «as mulheres encontram-se, muitas vezes, com uma situação financeira mais ou menos estável e aproveitam para cuidar da saúdee da aparência física», esclarece Cláudia Almeida.
A psicóloga acrescenta que praticar desporto ajuda à resposta sexual feminina, pois «estimula a produção de hormonas, como a adrenalina, a testosterona, o estradiol, as endorfinas e a serotonina».
Telma Pinto Loureiro vai mais longe, afirmando que o exercício físico «é também uma forma de afirmação feminina, que contrasta com a posição passiva que as mulheres tinham na vida e na cama até há alguns anos».
Efetivamente, parte do segredo por detrás da plena satisfação entre os lençóis é a qualidade de vida que se tem fora deles.
Fatores internos e externos
Os benefícios que a experiência e o conhecimento trazem com o passar dos anos são substanciais e, assegura Telma Pinto Loureiro, «psicologicamente ocorrem mudanças significativas».
Existem vários aspetos que contribuem para que a mulher desfrute mais do sexo, como a estabilidade emocional, a saúde física, a situação socioeconómica e a vida social.
Ao nível fisiológico é importante não esquecer que é na meia-idade que normalmente a mulher atravessa a menopausa, um período em que se verificam alterações dos níveis hormonais (principalmente redução do estrogénio) que, por sua vez, desestabilizam o organismo e o humor.
Conquanto seja um momento «de readaptação e de crescimento», como comenta a psicóloga Maria Joana Almeida, isso não significa que a vida sexual sofra obrigatoriamente alterações, pois uma pessoa que encare o envelhecimento com naturalidade «adapta-se mais facilmente».
O homem passa também por um processo de envelhecimento, podendo verificar-se a diminuição da testosterona e uma maior dificuldade em conseguir uma ereção, devido a fatores como o álcool, o tabaco e a ansiedade.
Conforme explica Telma Pinto Loureiro, «não é por acaso que a sexualidade masculina é abordada sobretudo pela perspetiva biomédica, e a feminina da perspetiva psicológica».
A importância da imagem
Celebrar o corpo que tem depois dos 40 anos é um dos principais obstáculos para haver total à-vontade no vale dos lençóis. «Quanto maior for a segurança e a confiançada mulher, maior será a sua entrega e o prazer», Cláudia Almeida.
Os padrões de beleza sempre foram altos para cada época, mas, atualmente, as mulheres já não competem com a biologia. Imagens manipuladas atravessam-se à nossa frente em todo lado, criando expectativas inacessíveis.
«O Photoshop mostra-nos corpos ideais e plastificados que levam muitas mulheres a aceitarem mal as mudanças que os anos lhes trazem», avança a psicóloga Maria Joana Almeida.
O medo de envelhecer preocupa sobretudo as mulheres, que investem, desde jovens, em cosméticos destinados a adiarem os efeitos da idade.
Contudo, ressalva Telma Pinto Loureiro, «existem muitas mulheres que aprendem a tirar partido do que essa fase lhes pode dar». As noções de prazer e de intimidade sexual maturam com a idade e a vergonha deixa de ser um inibidor.
A (in)segurança que a idade traz
Cristina Santos, 44 anos, descreve que «deixamos de reparar na celulite, nas mamas descaídas, nas estrias, para passar a concentramo-nos nas inúmeras formas de viver a sexualidade.
Estamos mais concentradas no prazer e menos distraídas com coisas que, afinal, não têm importância». A sexualidade torna-se mais gratificante porque a mulher passa agostar mais de si mesma, está mais confiante e sabe que a comunicação continua a ser importante para manter a relação com o seu parceiro sexual.
«O sexo depois dos 40 baseia-se no que o outro é e não no que se idealiza que seja», acrescenta Leonor Areias, 45 anos. Já não há lugar a tabus, e a linha de diálogo tem de estar sempre aberta.
«A sexualidade deve ser vivenciada satisfatoriamente independente da idade», segundo a psicóloga Cláudia Almeida. Assim, aproveite para ir praticando, se ainda não entrou no grupo dos entas ou para dar asas à imaginação, se já chegou aos 40.
Brincadeiras adultas
Tire o máximo de prazer das experiências sexuais, acrescentando um ingrediente mais inusitado ou divertido. Apologista dos brinquedos sexuais, a autora do livro «Ponto Quê?
O Prazer no Feminino», Vânia Beliz, afirma que estes podem ajudar a apimentar a relação, beneficiando a sexualidade tanto a nível individual, como com um parceiro.
As opções são tantas que chegam a existir sex shops em cada esquina de bairros como o Soho em Londres, para dar resposta à procura.
Até encontrar o(s) objecto(s) que a excitem mais, vá experimentando e aproveite para se conhecer ainda melhor, descobrindo novas sensações.
Mas, como afirma a psicóloga Maria Joana Almeida, «o erotismo não passa só pela compra de produtos». Embora se deva cultivar o erotismo em qualquer momento de uma relação, o elemento da novidade pode ser decisivo para manter a chama acesa entre casais que já estão juntos há muitos anos.
Cada casal tem a sua dinâmica e deve tentar descobrir o que funciona melhor para ambos, seja brinquedos, brincadeiras eróticas a dois (como role playing), pornografia, ou simplesmente uma conversa picante que desperte os sentidos.
Acima de tudo, a psicóloga Telma Pinto Loureiro aconselha a que «o desejo de um elemento seja percepcionado pelo parceiro».
Algo que Leonor Areias, 45 anos, subscreve cem por cento, pois na meia-idade as mulheres estão «mais descontraídas e receptivas a usar truques que aumentem as sensações para ambos».
Autoerotismo
«Com o conhecimento que se vai obtendo acerca do próprio corpo, a atividade sexual torna-se mais prazerosa», explica a psicóloga Cláudia Almeida.
Tendencialmente solitária, a masturbação pode ser, no entanto, um ato acompanhado. Basta que nenhum dos membros do casal se sinta constrangido, para se tornar num ato de descoberta a dois.
Um conselho infalível
Theodoor van de Velde, um ginecologista holandês, relata que o médico da corte real de Habsburgo terá sugerido à imperatriz Maria Teresa (século XVIII) que «a vulva de sua mais sagrada majestade seja titilada durante algum tempo antes do ato sexual», para se libertar e assim ter maiores probabilidades de engravidar. O conselho resultou tão bem que a imperatriz teve 16 filhos.
De qualquer modo, há pessoas que não se sentem confortáveis a masturbarem-se à frente dos seus parceiros, pelo que a psicóloga Maria Joana Almeida deixa um alerta.
«A masturbação não deve ser considerada competição com a vida (sexual) de casal», adverte. Além de que podemos ter orgasmos através de uma série de estímulos, que não têm de envolver os genitais.
Nos anos da década de 1940, o fundador do Instituto de Pesquisa sobre Sexo na Universidade de Indiana (EUA), Alfred Kinsey, entrevistou uma mulher que conseguia atingir o orgasmo friccionando as sobrancelhas.
Na literatura da especialidade também há registo de uma mulher que tinha orgasmos sempre que lavava os dentes. Outro estudo, da Universidade de Rutgers (EUA), descreve o caso de uma mulher que conseguia atingir o orgasmo com o pensamento.
Texto: Filipa Basílio da Silva