Rafaela Drumond, escrivã da Políci Civil que morreu em Barbacena — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Rafaela Drumond narrou a amigos episódios de machismo e perseguição, incluindo o momento em que um colega virou uma mesa contra ela. Polícia e corregedoria investigam o caso.
Por Rodrigo Salgado, g1 Minas — Belo Horizonte
Em áudios enviados a uma amiga em fevereiro deste ano, a escrivã Rafaela Drumond, de 31 anos, que morreu no último dia 9, relatou episódios de assédio moral e sexual, perseguição, boicote e até uma tentativa de agressão física por parte de colegas de trabalho da Polícia Civil de Minas Gerais.
O g1 teve acesso aos mais de 20 minutos de desabafos feitos pela escrivã. O material está sendo analisado pela Polícia Civil. (ouça ainda nesta reportagem) Além dos áudios, um vídeo em que ela aparece sendo ofendida por um suposto colega está sendo periciado. (veja vídeo abaixo)
Rafaela foi encontrada morta pelos pais em Antônio Carlos, no Campo das Vertentes. O caso foi registrado como suicídio. A Polícia Civil abriu inquérito para investigar o caso. A Corregedoria da corporação apura as denúncias de assédio que teriam ocorrido na delegacia de Carandaí, na Zona da Mata, onde a escrivã trabalhava. Até o momento, ninguém foi suspenso.
Em uma das gravações, a escrivã detalha o contexto do vídeo que gravou (veja acima), quando foi ofendida por um colega de delegacia. Ela conta que se tratava de uma confraternização e, que após vários insultos, ele chegou a virar uma mesa contra ela, mas não a acertou.
“Sabe o que que ele pegou e fez? Virou a mesa em cima de mim, caiu cerveja na minha roupa, caiu [sic] os negócios que tavam na mesa na minha roupa. Na hora que acabou isso eu peguei meu telefone e comecei a gravar. Eu devia ter gravado desde o início”, disse Rafaela Drumond na gravação. Ouça:
Relato ao superior
No áudio seguinte, enviado a uma amiga, Rafaela conta que contou tudo para o delegado e mostrou o vídeo. O superior perguntou se ela queria tomar alguma providência e ela disse que não, por receio de represálias na cidade.
“Não quis tomar providência porque ia me expor. Isso é Carandaí, cidade pequena. Com certeza ia se voltar contra quem? Contra a mulher. Eu deixei, prefiro abafar. Eu só não quero olhar na cara desse boçal nunca mais”, narrou a escrivã na ocasião.
Assédio sexual
Rafaela Drumond ainda contou a colegas os problemas que vivia na unidade, mas que foi aconselhada a esquecer: “entra por um ouvido, sai pelo outro”, disse em um dos áudios. Ao final da gravação, ela ainda diz que sofreu um assédio sexual em 2022.
Receio de contar para amigos
Os áudios foram enviados em fevereiro, mas os problemas teriam começado quase um ano antes. Rafaela disse que não costumava desabafar com os amigos por ser tratar de um assunto desgastante – o que também acontecia em relação aos pais.
“Eu nem contei pra vocês, porque, sabe, umas coisas que me desgastam. Quanto mais eu falo, mais a energia volta. Fiquei calada. […] Eu fiquei quieta na minha, achando que as coisas iam melhorar. Eu não incomodo muita gente, mas, enfim, agora chega”, disse Rafaela.
Lotada em Carandaí, a escrivã tentou conseguir uma transferência para Conselheiro Lafaiete, na Região Central, fato que chegou ao conhecimento dos superiores.
Em investigação
A Polícia Civil disse que “objetos que guardam relação com a investigação” estão sendo periciados, como é o caso do celular dela, onde essas e outras trocas de mensagens estão armazenadas. O caso foi registrado como suicídio.
Além do inquérito investigativo, a instituição também instaurou um procedimento administrativo disciplinar para apurar os fatos. Afirmou que “aguarda a finalização dos procedimentos de polícia judiciária para adoção das medidas legais cabíveis”.
PRONTO FALEI!!!👊👊👊
👉✍👍 Se não está no Portilho…. 🚀Não está no mundo 🌍🚀”.
Por: José Maria Portilho Borges (Jornalista)- MTB: 18.144/MG.