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👉🚀😮🧐🔎✍🤔📢😱🤔🙄A DESPEDIDA O YAHOO DA NOTICIA É CULPA DO BOLSONARO ?!?!?

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A Yahoo logo is pictured in front of a building in Rolle, Switzerland December 12, 2012.   REUTERS/Denis Balibouse/File Photo
Foto: Denis Balibouse/Reuters

Em 2014, eu tinha 31 anos, um filho para criar e uma ideia na cabeça.

Depois de 12 anos em São Paulo, estava decidido a me reconectar com as raízes interioranas e me “aposentar” do jornalismo diário.

Vim para a região de Campinas (SP) trabalhar em um instituto de cultura disposto a deixar para trás os tempos de tiro, porrada e bomba da velha profissão. Fazia menos de dez anos que eu havia me formado.

Um dia, chegando ao novo trabalho, o jornalista Ricardo Lombardi, que tinha acabado de assumir a chefia da operação do Yahoo no Brasil, me telefonou perguntando se eu topava escrever uma coluna sobre política no portal. A ideia era cobrir a eleição de 2014, que estava prestes a começar oficialmente.

Hesitei.

Como repórter, tinha acompanhado as últimas duas eleições presidenciais de perto, indo atrás de candidatos, cobrindo encontros, eventos, discursos em palanques.

O que poderia fazer longe de tudo e de todos?

O Lombardi me explicou que a ideia era publicar textos analíticos. Dois ou três análises por semana. Até o fim da eleição.

Aquela mosca da curiosidade que a gente pensa ter matado antes das grandes mudanças me pegava novamente.

O primeiro texto, publicado em julho daquele ano, já falava de uma inquietação sobre os ânimos acirrados às vésperas de mais uma disputa eleitoral. Não creio que estava errado.

O Brasil acabava de entrar numa rotatória perigosa do qual ainda não saiu. O jornalismo, idem. Eu fui junto, sem cinto de segurança ou distância adequada.

Depois daquele primeiro texto, foram quase dez anos, entre idas e vindas, de puro esforço para entender o que estava acontecendo.

Aquela seria a eleição mais acirrada da história. Foi superada pela eleição seguinte, em 2018. Que foi superada pela seguinte, em 2022.

Não sei como será em 2026. Sei que não estarei aqui para contar.

O portal que abrigou todos esses textos – das pancadarias entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), passando pelo impeachment, a Lava Jato, a ascensão da nova direita, o atentado contra Jair Bolsonaro e sua vitória nas urnas, com seus ensaios golpistas e anseios autoritários, a pandemia, o ataque à ciência e ao bom senso, sua derrota para Lula (PT) em 2022, o confronto aberto em um país ainda ferido e polarizado – deixará de existir a partir de 31 de março.

Se não tivesse algum resquício de modéstia, diria que a tentativa de contar uma história, com começo e meio, embora longe do fim, ficou registrado no Yahoo Brasil nesses quase dez anos.

Foi o período em que o jornalismo precisou se reinventar. Já não bastava noticiar ou compreender os fatos. Era preciso desmentir mentiras, correntes mal intencionadas, discursos de ódio, a oferta de medo para a compra de soluções fáceis, simplórias, como se tornou o debate no Brasil (e no mundo) com a consolidação de uma força ainda emergente em 2014: as redes sociais.

O desafio era entender o que acontecia em meio ao tiroteio. Desviar do tiro e observar a trajetória da bala. E vislumbrar prognósticos, não só o passado recém-desfraldado. Mais do que entender o que acontecia, era necessário saber para onde íamos.

Era um flerte com o erro, embora com (alguns) acertos. Um deles foi a previsão, baseada em dados do presente, de que Aécio Neves, então postulante a líder da oposição, perigava se tornar a versão atualizada de Carlos Lacerda ao se entregar ao impulso golpista alimentado por sua derrota nas urnas. Lacerda ajudou a criar as condições do regime militar que mais tarde cassaria seus direitos políticos.

E Aécio, estava claro há quase dez anos, não seria o herdeiro natural do terreno semeado por ódio que ele estava presteza a colher.

O beneficiário seria a figura mais radicalizada daquele momento, embora poucos acreditassem em sua viabilidade eleitoral: Jair Bolsonaro, então um deputado de baixo clero que já era recepcionado como “mito” pelas ruas que os tucanos (e mais tarde os meninos do MBL) tentavam incendiar.

Modéstia à parte, foi dito e feito.

Todos foram engolidos pelo radicalismo que um dia alimentaram.

Este colunista alertou sobre os perigos do ressurgimento de figuras autoritárias muito antes de elas tomarem o poder para boicotar os frágeis laços sociais e institucionais da jovem democracia brasileira.

Desconfiava das intenções de moralistas de gente togada e outros que não valiam o microfone que seguravam na tribuna antes que fossem, eles mesmos, flagrados com os próprios pensamentos e intenções, como as relevadas pela Vaza Jato.

Desconfiava também da onde da antipolítica que transformava lideranças em “gestores”, desses que confundem projetos públicos estruturantes com orçamento de empresa em busca de lucro.

Não, não foi fácil compreender o que foi e o que tem se tornado o Brasil das últimas décadas.

Mas tentamos.

Quando aceitei o desafio, láááááááá em 2014, não sabia que estava mais perto do objeto da análise do que estive nos anos em que morei e trabalhei na capital com a sensação de estar no centro de tudo.

No interior, recebia com alguns meses de antecedência os sinais de radicalização que não parecia à vista no circuito Paulista-Augusta. Os discursos que moldaram o bolsonarismo encontraram eco e aderência em meus novos vizinhos, com quem passei a conviver e dialogar depois que deixei as salas enclausuradas das grandes redações – de onde, do alto, tentamos detectar as tendências a quilômetros dali.

A maioria desses personagens, que passaram a inspirar e habilitar as colunas, nem de longe pareciam o protótipo de radicais em que alguns se converteram anos depois. Foi mais ou menos nessa época que minha profissão se tornou uma profissão de risco.

Durante anos, o Yahoo Brasil foi a casa onde pude dividir a angústia dessas transformações ainda em curso. Não com a pretensão de elaborar respostas, mas para aliviar um tanto o peso das perguntas.

Sim, é preocupante que espaços como este deixem de existir no momento em que o jornalismo — uma profissão para muitos suja e vulgarpor não assumir algum lado das muitas militâncias, ou pior, por botar lupas sobre as contradições de cada uma delas – periga deixar de existir.

Mas não é sobre isso esse texto.

Uma das vantagens da vida em rede é poder encontrar com leitores e novos amigos que de alguma forma foram sensibilizados por algo que escrevemos em algum momento, botamos na garrafa e arremessamos em direção ao mar.

“Uso aquele seu texto do Yahoo até hoje em sala de aula”, me diz um amigo virtual, que me recuso a chamar de “seguidor”. (Na vida em rede, todos nos seguimos, e já não há tribuna para alguém falar de cima para baixo sem saber ouvir).

“Passei a entender melhor meus filhos depois do seu texto sobre as diferenças”, me falou uma mãe certa vez.

Relatos assim fazem tirar do armário uma certa tentação ao clichê para dizer que olha só, foi duro, tem sido, será ainda mais, mas valeu a pena.

Parte dessa história desaparece um pouco quando os textos arremessados em direção ao oceano desaparecem junto com ele.

É da vida.

Nada disso seria possível sem a confiança de um editor que me telefonou e confiou em mim lá atrás. E de todos e todas que o substituíram.

Vou sentir falta das discussões diárias no grupo de WhatsApp com os amigos de trabalho a cada nova notícia (ou absurdo) que nos chegavam em mãos.

Sim, nos últimos anos as colunas eram diárias, algumas delas em vídeo, que aprendi na marra a produzir.

E sim, eu segui por aqui, no interior, de longe e de perto. (E adorava visitar a redação para me sentar por alguns segundos na cadeira símbolo do Yahoo).

Escrever é estabelecer uma relação de confiança, e ela foi testada e atualizada toda vez que dialogava, antes e depois de qualquer texto, com meus colegas, agora amigos, Leonardo Sacco, João Kneipp e Lucas Tomazelli – todos nós sob a coordenação atenta da jornalista Alessandra Blanco, diretora do Yahoo Brasil nesses últimos anos.

Gabriel Garcia Márquez ensinava que a vida não é o que se viveu, mas o que se lembra, e como se lembrar para contar.

Nós seguiremos contando. E fazendo jornalismo. Mesmo que só nos reste uma caneta bic para escrever em papel de pão.

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