Praticar sexting ou, melhor dizendo, mandar nudes pelos aplicativos de celular já rendeu problemas para milhares de mulheres anônimas e para celebridades como Jennifer Lawrence, Rihanna, Kirsten Dunst e Carolina Dieckmann.
Mas por que tanta gente continua enviando fotos sensuais ou explícitas para os parceiros, mesmo com o risco de ter o material vazado na internet?
A resposta pode ter vindo da universidade americana de Drexel, no Estado da Filadélfia, que realizou uma pesquisa sobre o tema e concluiu que a prática pode ajudar casais a melhorar a comunicação e incrementar a intimidade.
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Apresentados recentemente, durante a 123ª convenção anual da Associação Americana de Psicologia, os dados revelam que oito em cada dez casais consultados disseram ter enviado imagens íntimas pelo telefone.
Três quartos deles afirmaram ter enviado o conteúdo a pessoas com quem tinham compromisso sério, como namoro ou casamento, e disseram associar o sexting a uma melhora na satisfação com o relacionamento.
O estudo foi feito na internet com 870 americanos com idades entre 18 e 82 anos. Segundo a pesquisadora responsável pelo estudo, Emily Stasko, os vazamentos criminosos das fotos aponta para o lado negativo da prática, não levando em conta os benefícios.
“O sexting pode aumentar os efeitos potencialmente positivos da comunicação aberta entre um casal”, afirmou.
O que a pesquisa não revela, no entanto, são as circunstâncias em que os nudes podem, de fato, contribuir para melhorar o relacionamento de um casal.
A psicóloga Bruna Cirelli, membro do corpo clínico do Centro de Terapia de Casal e Família Domus, em Porto Alegre, destaca que os possíveis benefícios da prática aparecem quando a relação entre o casal está harmoniosa, com boa comunicação e um pacto de confiança plenamente estabelecido.
— Quando existe o acordo em que o casal procura manter-se conectado intimamente por que está distante concretamente, isso pode ser bom.
Se a troca de imagens for parte de um acordo de confiança, pode sim ser usada de modo benéfico, assim como ligações íntimas e sensuais.
Mas tudo depende da dinâmica daquele casal, das coisas que seduzem aquelas pessoas. Não existe receita de bolo — comenta Bruna.
Trocar a intimidade real pela virtual pode ser um risco e já é comportamento percebido em muitos casais.
— As pessoas criam uma intimidade virtual, com declarações de amor em redes sociais, recados românticos por Whatsapp, mas não se beijam mais, não andam de mãos dadas, não investem fisicamente na relação.
Os motivos disso podem ser muitos, como o cansaço, as atribulações das agendas ou a própria dedicação às redes, que deixa pouco tempo livre para o contato direto. É preciso prestar atenção nisso — aconselha a terapeuta.
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Benefícios x riscos: vale a pena mandar nudes?
Levantamento da ONG Safernet, que há oito anos atua monitorando os crimes na internet, mostra que, em 2014, foram registrados 224 casos de vazamento de imagens íntimas na internet, enviadas por meio de aplicativos de celular – número que quadruplicou desde 2010.
A maior parte desses casos, segundo a entidade, é de revenge porn (pornografia de vingança), que é quando o parceiro divulga as imagens íntimas trocadas com a mulher por vingança, após um rompimento ou uma traição.
Ainda de acordo com a Safernet, 81% das pessoas que pediram ajuda à ONG por terem imagens expostas de forma criminosa na internet eram mulheres.
São cada vez mais comuns os casos de suicídio de jovens vítimas deste tipo de crime – em novembro de 2013, uma menina de 17 anos de Veranópolis se enforcou após ter uma foto divulgada pelo ex-namorado.
— Apesar dos resultados da pesquisa, vejo essa prática com muita cautela. O que pode servir para apimentar um relacionamento que está morno pode também vazar na internet, trazendo muitos transtornos para as mulheres — afirma a sexóloga e terapeuta de casais Jaqueline Brendler.
Avaliar o nível de confiança e comprometimento do parceiro é o primeiro passo para medir a segurança da prática. Mesmo assim, nunca há garantias de que as fotos não irão vazar.
Mesmo que o parceiro mantenha a discrição, o celular pode ser roubado, perdido ou precisar de um conserto, o que já representa um risco enorme de exposição da mulher.
A sexóloga aponta ainda que o sexting não é usado apenas por casais que estão em um relacionamento sério, mas também como forma de abordagem para obter sexo casual – o que nem sempre é confortável para as duas partes, especialmente a mulher.
— O fato é que vivemos em uma sociedade extremamente machista, na qual a mulher é difamada quando ocorre um vazamento e o criminoso que divulga raramente sofre punição. Até que o machismo perca força, as mulheres precisam se proteger — ressalta Jaqueline.
Em seu consultório, a terapeuta já tratou inúmeros casos de perda de libido e falta de entusiasmo para o sexo, mas a troca de imagens íntimas nunca foi uma estratégia adotada com os pacientes.
Segundo ela, pessoas com baixa libido – problema que atinge cerca de 26% das mulheres – não têm entusiasmo para se fotografar, o que desencorajaria a prática mesmo nestes casos.
— Aconselho os casais a pensarem com cautela nessa estratégia, pois vejo a prática com muita reserva. A mulher sempre ficará exposta e pode se tornar vítima de práticas criminosas e machistas — sentencia Jaqueline.
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