O Ministério Público (MP) informou nesta sexta-feira (24) ter obtido áudios atribuídos a conversas mantidas por Caio Cesar Ballerini, delegado de Polícia Civil de Patrocínio e réu na Operação “Fênix”. A denúncia contra ele foi apresentada há uma semana.
Para o órgão, os áudios, que envolvem pelo menos um agente penitenciário e três investigadores, mostram o policial tentando invalidar a delação premiada do ex-policial Thiago Souza, que foi preso na Operação “100 Anos de Perdão” e que também é réu e colaborador nas investigações do Ministério Público na Fênix. A defesa do delegado negou a veracidade da denúncia e disse que entrou com recurso.
A operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Uberlândia foi desdobrada, até o momento, em sete fases e resultou na prisão de 145 pessoas entre dezembro do ano passado e julho. As denúncias envolvem policiais civis, advogados e empresários da região.
Ballerini e os três investigadores de Patrocínio citados na denúncia foram os últimos a serem presos. A denúncia contra eles foi oferecida à Justiça pelo Gaeco no dia 17 de agosto. O processo penal tramita na 2ª Vara Criminal da comarca de Uberlândia.
Segundo investigações dos promotores de Justiça, os policiais se aproveitaram das funções públicas para ouvir e pressionar presos na cidade do Alto Paranaíba. As oitivas tinham a intenção de fazer acordos para invalidar delações premiadas feitas ao Ministério Público em outras fases da operação.
Confira dos trechos dos áudios
O MGTV teve acesso com exclusividade a conversas que serviram como parte do conjunto probatório para a denúncia apresentada. Em um dos áudios, o delegado Caio César é apontado como a pessoa que pede para um agente penitenciário convencer um preso a fornecer elementos para invalidar a colaboração premiada do ex-policial civil de Patrocínio, Thiago Souza.
No acordo com os promotores, Thiago Souza citou a participação de vários policiais civis em crimes diversos.
Veja trechos dos áudios atribuídos a Ballerini:
- “A intenção nossa, eu vou ser bem claro com você, mas que isso fique reservado entre a gente, tentar derrubar a delação do Thiago, tá?
- “Não sei como você faria isso para mim, mas é perguntar se a questão conversada comigo tá tudo certo. Ele vai entender o que que é, tá? E aí você, se conseguir isto é, se for possível, aí você me avisaria aqui, é está tudo certo doutor, porque aí eu já sei como proceder depois, beleza?”
De acordo com o MPE, o delegado, com a ajuda de três investigadores, alterou o documento de um preso para parecer que partiu dele o pedido de ser ouvido em um encontro. A promessa do delegado era que, se o preso colaborasse prejudicando a delação do outro, conseguiria benefícios.
Leia o trecho em que novamente aparece uma manifestação atribuída ao delegado:
- “Você só, frisa que aí desta vez nós vamos tentar o benefício pra ele sim, porque a primeira vez que eu conversei com ele, eu disse que não tinha como, que não era comigo, tal, e, se ele estiver disposto realmente a colaborar e derrubar a delação do Tiago, fala para ele que a Polícia Civil vai estar disposta a barganhar benefício pra ele em delação premiada, tá bom? Então falou! Um abraço! Obrigado.”
O Gaeco também teve acesso a conversas pelo WhatsApp anexadas à denúncia. Conforme o órgão, também nessas conversas, o delegado reforça o interesse de derrubar a delação do ex-policial.
A defesa do delegado Caio Ballerini disse ao MGTV que já apresentou recurso para o caso e que nada do que está na denúncia aconteceu. A defesa também afirmou que toda atividade policial do delegado foi gravada e será apresentada no momento oportuno.
Já o advogado que representa Rafael Emerson Fernandes de Oliveira, um dos investigadores citados na denúncia sobre os áudios do policial e que está preso, informou que o cliente não está envolvido no que foi denunciado e já apresentou pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).
O MGTV não conseguiu localizar as defesas de Abel Rosa de Jesus Silva e Antônio Alcides Cortes Filhos, que também estão presos e são citados pelo MP na mesma denúncia. Todos os denunciados seguem na Casa da Custódia da Polícia Civil em Belo Horizonte.
Fênix
- A Operação "Fênix" foi deflagrada pelo Gaeco de Uberlândia, no dia 19 de dezembro de 2017. A primeira fase da megaoperação culminou no cumprimento de cerca de 200 mandados em Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná.
- Na segunda fase da operação, ainda em dezembro, dois advogados foram presos.
- No dia 1ª de março, o Gaeco voltou a prender na 3ª fase da operação três denunciados que haviam sido liberados. Entre eles estão um advogado, um investigador e um delegado.
- No dia seguinte, mais um advogado foi preso suspeito de corrupção e obstrução de Justiça.
- Na 5ª fase, deflagrada no dia 27 de março, empresários e policiais foram alvos de mandados de prisão em Araxá e Uberlândia.
- Em junho de 2018, outros empresários e policiais de Uberlândia, Uberaba e Itumbiara (GO) foram alvos da nova fase da "Operação ‘Fênix".
- No mês seguinte, um delegado e agentes da Polícia Civil foram presos na nova fase da Operação ‘Fênix’ em Patrocínio.