“Fora do MST, essas áreas de produção (de arroz orgânico) são bem menores, cerca de 600 a 700 hectares por produtores”, acrescenta Portela.
Sobre a pouca quantidade produzida no Brasil, em comparação ao arroz com cultivo considerado tradicional, Portela argumenta que isso ocorre porque há pouco investimento em desenvolvimento de iniciativas para a produção desses grãos, assim como outros produtos orgânicos.
“Outro ponto que me parece importante se refere ao aspecto cultural, a geração atual de agricultores ainda olha com uma certa insegurança para este sistema já que também o apoio técnico é deficiente”, afirma o especialista.
Já o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) afirmou à BBC News Brasil que há 1,1 mil produtores de arroz registrados no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO). No entanto, nesse sistema somente é possível acessar o nome do produtor e a sua localização, não há como detalhar quais estão em áreas de assentamento do MST.
“Para o alcance desses objetivos, o programa compra alimentos produzidos pela agricultura familiar, com dispensa de licitação, e os destina às pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional atendidas pela rede socioassistencial, pelos equipamentos públicos de segurança alimentar e nutricional e pela rede pública e filantrópica de ensino”, diz comunicado da Conab.
“O programa é executado pela Conab e por estados e municípios sob a gestão do Ministério da Cidadania”, acrescenta a nota, que destaca que o programa “prevê a aquisição de produtos da agricultura familiar, e não apenas o arroz”.
Ainda na nota, a Conab afirma que não possui nenhuma ação de compra anual de arroz em nenhum lugar do país.
Nas prateleiras dos mercados e no exterior
Além dos programas do poder público, o MST também comercializa o arroz orgânico para mercados ou vende diretamente aos consumidores de diferentes regiões do país.
O movimento também exporta o produto, com o apoio de empresas que levam o grão a outros países. “Mas isso diminuiu bastante no último período, principalmente pelo custo, que mais que quadruplicou, por causa do transporte. Não há contêiner e quando tem é um custo absurdo, eleva muito o valor e não compensa. Neste ano só exportamos para a Itália e a Alemanha, mas nos anos anteriores era para muito mais países”, diz Vivian.
Em meio às dificuldades para a comercialização, surgiu outro problema no período recente: a intensa seca que atinge o Rio Grande do Sul desde o fim do ano passado. Esse fator atrapalha a produtividade do grão, segundo o MST.
O atual cenário de dificuldades e incertezas tem afetado, principalmente, as famílias assentadas que são responsáveis pela produção do grão e que têm a comercialização dele como parte da renda.
“É uma atividade lucrativa, mas essas famílias não trabalham só com o arroz”, minimiza Vivian. Essas famílias também possuem outros cultivos para complementar a renda, como o de hortaliças, frutas ou gado de corte.
“São pessoas que lá atrás se organizaram em grupos, formaram acampamentos e lutaram por um pedaço de chão para produzir e viver dignamente”, afirma Vivian.
Apesar dos problemas no atual cenário, o MST estima que na safra de 2021/2022 devem ser colhidas mais de 15 mil toneladas de arroz orgânico. É um volume maior do que o da safra anterior, período considerado extremamente difícil, quando foram colhidas 12 mil toneladas.
E para essas famílias, a comercialização de todo esse arroz orgânico da safra é um grande desafio pela frente.